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Jornalista, por conta de cassação como oficial de Marinha no golpe de 64, sou cria de Vila Isabel, onde vivi até os 23 anos de idade. A vida política partidária começa simultaneamente com a vida jornalística, em 1965. A jornalística, explicitamente. A política, na clandestinidade do PCB. Ex-deputado estadual, me filio ao PT, por onde alcanço mais dois mandatos, já como federal. Com a guinada ideológica imposta ao Partido pelo pragmatismo escolhido como caminho pelo governo Lula, saio e me incorporo aos que fundaram o Partido Socialismo e Liberdade, onde milito atualmente. Três filh@s - Thalia, Tainah e Leonardo - vivo com minha companheira Rosane desde 1988.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Como banqueiros corrompem acadêmicos e "analistas"

Fundamental para entender a forma como acadêmicos e "analistas de mercado" nos grande órgãos conservadores de comunicação são corrompidos pelo grande capital financeiro. Depois desse artigo redigido por um ex-economista chefe do FMI,  o que esses cúmplices da criminosa especulação financeira escreverem será lido de forma mais atenta.

Predadores e professores

Por Simon Johnson
Será que as principais universidades dos Estados Unidos ainda hoje são, como outrora, grandes guardiãs da sabedoria, forças motoras do progresso tecnológico e fontes de oportunidades? Ou se tornaram cúmplices inescrupulosas de elites econômicas cada vez mais vorazes?
Quase no fim do filme "Inside Job", documentário de Charles Ferguson que ganhou o Oscar no ano passado, vários economistas importantes são entrevistados sobre seu papel como animadores de práticas questionáveis e da assunção excessiva de riscos durante o período que antecedeu a crise de 2008. Alguns desses acadêmicos proeminentes receberam somas significativas para garantir os interesses de grandes bancos e outras empresas do setor financeiro. Como Ferguson mostra no filme e em seu recente livro, o revelador "Predator Nation" (Nação de predadores, em inglês), ainda hoje muitos desses pagamentos não foram totalmente esclarecidos.
"Predador" é um termo totalmente apropriado para as atividades desses bancos. Como sua quebra traumatizaria o resto da economia, recebem proteções únicas - por exemplo, linhas de crédito especiais dos bancos centrais e relaxamento na regulamentação (medidas que foram anunciadas ou antecipadas nos últimos dias nos EUA, Reino Unido e Suíça).
Charles Ferguson, de Inside Job, acredita que a consultoria acadêmica ao sistema financeiro está fora do controle. Concordo, e controlar isso será complicado enquanto universidades e os bancos "grandes demais para falir" continuarem tão interligados.
Como resultado, as pessoas que administram esses bancos são encorajadas a assumir muitas apostas arriscadas, incluindo atividades que são puramente jogos de azar. Trata-se de um esquema de subsídios do governo perigoso e sem transparência, que, no fim das contas, envolve grandes transferências de dinheiro dos contribuintes para algumas poucas pessoas do setor financeiro.
Para proteger o esquema e garantir sua continuidade, megabancos internacionais contribuem com grandes quantias de dinheiro para os políticos. Por exemplo, o executivo-chefe do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, recentemente testemunhou na Comissão Bancária do Senado dos EUA sobre a aparente falha na administração de risco que provocou prejuízo estimado de US$ 7 bilhões nas operações de corretagem de sua firma. A OpenSecrets.org estima que o JPMorgan Chase, maior conglomerado bancário dos EUA, gastou perto de US$ 8 milhões em contribuições políticas em 2011 e que Dimon e sua empresa fizeram doações para a maioria dos senadores integrantes da comissão. Não é de surpreender que a maior parte das perguntas dos senadores tenha sido marcada pela amabilidade. E a estratégia mais ampla do lobby do JPMorgan Chase parece estar compensando; as "investigações" sobre falhas irresponsáveis na administração e possíveis riscos ao sistema como um todo provavelmente acabarão encobrindo erros.
Para sustentar sua estratégia política, os megabancos internacionais também promovem operações altamente sofisticadas de propaganda e desinformação, com o propósito de pelo menos cobrir com um verniz de respeitabilidade os subsídios que recebem. É aqui que entram as universidades.
Em recente mesa redonda da Comissão Reguladora de Operações a Futuro com Commodities (CFTC), um representante do setor bancário sentado próximo a mim citou um estudo de um destacado professor de finanças da Stanford University para apoiar sua posição contra alguma regulamentação em particular. O representante bancário deixou de mencionar que o professor havia recebido pelo estudo US$ 50 mil da Associação do Setor de Valores Mobiliários e Mercados Financeiros (Sifma, na sigla em inglês), um grupo lobista. (O professor, Darrell Duffie, revelou publicamente o valor de sua comissão e a doou para obras de caridade).
Por que deveríamos levar esse tipo de trabalho a sério - ou mais a sério do que outros trabalhos pagos de consultoria?
A resposta provavelmente é porque a Stanford University tem grande prestígio. Como instituição, conseguiu grandes feitos. E seu corpo docente é um dos melhores no mundo. Quando um professor escreve um estudo em nome de um setor empresarial, esse setor aproveita - e, de certa forma, aluga - o nome e a reputação da universidade. Naturalmente, o representante bancário na mesa redonda da CFTC enfatizou "Stanford" quando citou o estudo. (Não estou criticando essa universidade; na verdade, outros acadêmicos de Stanford, entre os quais Anat Admati, estão na linha de frente da defesa por reformas sensatas).
Ferguson acredita que essa forma de "consultoria" acadêmica está fora do controle. Concordo, e controlar isso será complicado enquanto universidades e bancos "grandes demais para falir" continuarem tão interligados.
Nesse contexto, recentemente fiquei decepcionado ao ler no "The Wall Street Journal" uma entrevista com Lee Bollinger, presidente da Columbia University. Bollinger é um diretor "classe C" no Federal Reserve (Fed) regional de Nova York - indicado pelo Conselho de Governadores do sistema do banco central americano para representar o interesse público.
No que foi aparentemente sua primeira entrevista ou declaração pública sobre questões de reforma bancária (ou mesmo sobre finanças), o principal argumento de Bollinger era de que Dimon deveria continuar no conselho do Fed de Nova York. Ele valeu-se de uma linguagem surpreendentemente não acadêmica - asseverando que as pessoas sugerindo a renúncia de Dimon ou sua substituição são "tolas" e têm uma "falsa compreensão" de como o sistema realmente funciona.
Atualmente, estou requerendo ao Conselho de Governadores do Fed para tirar Dimon de seu cargo. Quase 37 mil pessoas assinaram a petição on-line em change.org*.
A intervenção de Bollinger pode mostrar-se útil para Dimon; afinal, a Columbia University é umas das universidades mais renomadas do mundo. Por outro lado, também poderia se mostrar produtiva para fazer avançar o debate público sobre como os executivos de bancos "grandes demais para falir" sustentam seus subsídios implícitos.
Escrevi uma réplica detalhada da posição de Bollinger. Espero que ele, no espírito do diálogo acadêmico aberto, responda de alguma forma pública - seja por escrito ou concordando em debater pessoalmente comigo o assunto. Precisamos de uma conversa de maior visibilidade sobre como reformar a pouco saudável relação entre universidades e instituições financeiras internacionais subsidiadas, como o JPMorgan Chase. (Tradução de Sabino Ahumada).
* www.change.org/petitions/jamie-dimon-must-resign-or-be-removed-from -the-new-york-federal-reserve-board-of-directors.
www.baselinescenario.com/2012/06/14/an-institutional-flaw-at-the-heart-of- the-federal-reserve/
Simon Johnson foi economista-chefe do FMI e é cofundador do blog sobre economia www.BaselineScenario.com, professor da MIT Sloan, membro sênior do Instituto Peterson para Economia Internacional e coautor de "White House Burning: The Founding Fathers, Our National Debt, and Why It Matters to You" (Casa Branca em chamas: os pais fundadores, nossa dívida nacional e por que isso é importante para você, em inglês), com James Kwak. Copyright: Project Syndicate, 2012.

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