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Jornalista, por conta de cassação como oficial de Marinha no golpe de 64, sou cria de Vila Isabel, onde vivi até os 23 anos de idade. A vida política partidária começa simultaneamente com a vida jornalística, em 1965. A jornalística, explicitamente. A política, na clandestinidade do PCB. Ex-deputado estadual, me filio ao PT, por onde alcanço mais dois mandatos, já como federal. Com a guinada ideológica imposta ao Partido pelo pragmatismo escolhido como caminho pelo governo Lula, saio e me incorporo aos que fundaram o Partido Socialismo e Liberdade, onde milito atualmente. Três filh@s - Thalia, Tainah e Leonardo - vivo com minha companheira Rosane desde 1988.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Doações ao neoPT- quem paga o almoço?

O noticiário sobre a cascata de recursos depositados, como doação, na conta do (neo)Partido dos Trabalhadores revela, de forma incontestável, em que se transformou essa outrora briosa organização partidária de cunho socialista. São empreiteiras, bancos, empresas do agronegócio e siderúrgicas. Recursos provindos de trabalhadores desses segmentos? Nem pensar. É dinheiro de maganos habituados a não pagarem sequer almoço que não traga retorno imediato na conta de lucros e benefícios.
Ou seja; recursos na ordem de R$ 50 milhões de reais, em 2011, onde não nos ocorre ter havido campanha eleitoral de qualquer tipo, 89,5% de uma conta total, onde a segunda legenda aquinhoada, o PMDB, não viu mais do que 5% do ervanário. Ao DEMO e ao PSDB, siglas ideologicamente representativas desses segmentos, nada mais do que gorjetas, tendo em vista a inexpressividade em que mergulharam depois dos anos de fausto no mandarinato de FHC.
O que isso quer dizer? Quer dizer muita coisa. Quer dizer que esses segmentos podem abrir mão de tais recursos porque muito mais podem recuperar em suas relações de privatização do bem público. Muito mais; milhares de vezes mais do que o governo despende para manter aquietados amplos setores saídos da miséria para uma "classe média"onde a renda mensal familiar alcança não mais do que R$ 200,00.
Traduzindo: colaboram com o partido do governo que lhes atende aos interesses pecuniários; que está a seu serviço; que transforma nossa diplomacia em agência despachante de negócios (basta consultar a lista de empresários que acompanham Dilma em seus périplos no exterior); que coloca o bem público a serviço da multiplicação sem risco dos lucros que obtêm em seus setores específicos, mas também na especulação com títulos da dívida pública; que os isenta de tributo na renda e patrimônio, por conta do que massacram dos assalariados - tanto no imposto descontado na fonte, quanto nos gastos indiretos através do consumo, onde um quilo de feijão abate o mesmo imposto de quem ganha milhões ou de quem ganha salário mínimo.
Está aí a razão do sucesso do neoptismo. Está aí a essência do lulopragmatismo, que leva à loucura a velha direita: garante ganhos pantagruélicos do grande capital, à custa de um dispêndio mínimo com os setores marginalizados, mas suficiente para mantê-los calmos em sua insignificância social. Tudo acatado até por segmentos progressistas da sociedade, por conta de a alternativa ser algo muito pior - a parceria trágica de tucanos com demos.

Segue a matéria - que não foi publicada na Veja nem no Globo, mas no Valor Econômico cuja credibilidade ainda não virou alvo nem dos defensores fundamentalistas do governo

PT arrecada 89,5% das doações de empresas em 2011

Por Raphael Di Cunto
Ruy Baron/Valor - 30/3/2010 / Ruy Baron/Valor - 30/3/2010João Vaccari: "O PT arrecadou tanto porque a vida do partido continua normal mesmo quando não tem eleição"
Dos R$ 54,6 milhões dados por empresas para os 29 partidos políticos registrados na justiça eleitoral em 2011, o PT ficou com 89,5%. Naquele ano, o partido recebeu R$ 50,1 milhões de 75 doadores, segundo prestação de contas entregue a Tribunal Superior Eleitoral (TSE). As doações declaradas cumpriram as exigências da lei.
Com uma dívida de R$ 53,9 milhões que só aumentava desde a campanha eleitoral de 2002, o PT recorreu aos tradicionais doadores para quitar os débitos e entrar na eleição municipal deste ano com um caixa mais folgado. Apelou para empreiteiras, bancos, empresas do setor alimentício e petroquímico e até para um empresário envolvido no mensalão do DEM no Distrito Federal.
Seu principal adversário, o PSDB, recebeu apenas R$ 2,35 milhões - equivalente a 4,3% do total. O PMDB, segundo que mais arrecadou, ficou com 5,2% dos recursos distribuídos por empresas para financiar os partidos. A maioria das legendas sequer arrecadou recursos privados em 2011, ano em que não ocorreu eleição e em que o orçamento das siglas dependeu majoritariamente do fundo partidário.
O setor que mais contribuiu com o PT foram as empreiteiras, responsáveis por 45% dos R$ 48,9 milhões que o partido recebeu da iniciativa privada, segundo levantamento do Valor no balanço da legenda. Esse também foi o setor com maior número de doadoras, 21, e com a líder em contribuição: a Andrade Gutierrez, com R$ 4,6 milhões.
Fornecedoras de serviços e equipamentos para a Petrobras ficaram em segundo lugar, com 10,8% das doações, seguidas pelo agronegócio, com 10,3%. O setor petroquímico deu 9,9% dos recursos, com R$ 4 milhões da Braskem, que tem a Petrobras entre as suas acionistas. Já o setor financeiro, que teve o Bradesco e BMG como doadores, responde por 7,9% das colaborações.
A Braskem disse, em nota, que "contribui com partidos que demonstrem alinhamento com os compromissos da companhia em relação ao desenvolvimento nacional, regional e do setor químico e petroquímico". O Bradesco não comentou e o BMG disse que doa para vários partidos.
Na lista, há companhias com contratos vultuosos com o governo federal. A cingapuriana Jurong Shipyard nem começou a construir seu estaleiro em Aracruz, no Espírito Santo, mas já deu R$ 1 milhão para o PT. A empresa pretende atuar no setor de petróleo e gás, com a construção de navios e sondas de perfuração, produtos que tem como principal cliente a Petrobras. Procuradas, ambas preferiram não se pronunciar.
Em alguns casos, o governo tem até participação na empresas, como a JBS, em que o BNDESPar, braço de investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), tem 30,4%. Quinta maior doadora petista, a companhia disse, através de sua assessoria, que faz doações para todas as legendas. "O BNDES é um investidor da JBS, assim como em outras empresas", respondeu.
O BNDES disse, em nota, que "realizou 986 mil operações de crédito para empresas de todos os portes, então é natural que clientes do banco estejam entre as companhias que realizam doações a quaisquer partidos políticos".
De fato, a legislação permite que essas empresas doem tanto para candidatos quanto para partidos. As únicas restrições são os valores, que não podem ultrapassar 2% do faturamento do ano anterior, e que as doadoras não sejam concessionárias de serviços públicos. Esta regra, porém, tem alcance limitado, já que esses serviços costumam ser prestados por consórcios com outro CNPJ, o que permite à empresa doar em seu próprio CNPJ.
Entre as empresas que doaram estão ainda a Agropecuária Santa Bárbara, controlada pelo Grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, e a Ensin - Empresa Nacional de Sinalização e Eletrificação, de propriedade de Jorge Marques Moura e Labib Faour Auad, donos também da Consladel. Reportagem de 2009 do "Fantástico", da TV Globo, mostrou um funcionário da Consladel negociando pagamento de propina para instalação de radares.
O Valor procurou os diretores da Consladel e da Ensin desde terça-feira, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição. O secretário nacional de Finanças, João Vaccari Neto, afirmou, em nota, que as doações são legais. "O PT não é responsável pela conduta e pelos problemas fiscais das empresas doadoras. O PT cumpre rigorosamente o que determina a legislação atual com relação às doações partidárias", disse.
As doações de pessoas físicas representaram apenas 1,5% do total arrecadado. O percentual só não foi menor, porém, devido à contribuição de três grandes empresários: José Celso Gontijo, que é investigado no mensalão do DEM (leia abaixo) e deu R$ 600 mil; Ronaldo de Carvalho, que é um dos donos da Drogaria São Paulo e contribuiu com R$ 100 mil; e Benjamin Nazário Fernandes Filho, acionista majoritário da Benafer, uma das maiores distribuidoras de aço plano do país.
Vice-presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro, Fernandes Filho disse que acompanha a política faz tempo e que doou R$ 1 milhão como pessoa física. "O PT enfrentava problemas financeiros por causa da campanha. Alguns amigos meus, que são do partido, pediram ajuda", conta o empresário, que diz ter doado também para a reeleição do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB). "Era logo no começo do governo Dilma, e eu achava que ela estava tomando medidas muito efetivas. Queria que continuasse assim, por isso resolvi doar", diz.
A campanha que elegeu Dilma Rousseff (PT) presidente deixou uma dívida de R$ 26,7 milhões em 2010. Essa conta foi absorvida pelo diretório nacional do PT, que estabeleceu o prazo interno de um ano para quitá-la, segundo Vaccari. O pedido para os empresários surtiu efeito e o partido teve uma receita extraordinária para um ano não eleitoral, de R$ 109,9 milhões.
O valor é uma vez e meia maior do que o arrecadado em 2009, quando a receita do diretório nacional petista atingiu R$ 44,8 milhões, e está bem acima do que as outras legendas arrecadaram no ano passado - segundo maior orçamento, o PMDB recebeu R$ 44,5 milhões, contra R$ 38,5 milhões do PSDB.
Parte do crescimento na receita deve-se ao aumento no fundo partidário - o PT, como o partido mais votado para a Câmara dos Deputados em 2010, tem direito à maior parcela, de R$ 51 milhões. Outra parte, mais significativa, veio das doações. "O PT arrecadou tanto porque a vida do partido continua normal. Os outros partidos não existem fora dos anos eleitorais. O PT existe, faz eventos, palestras, manifestações", diz Vacari.
Embora tenha reduzido a dívida do partido em 72% em comparação com 2010, o dinheiro, porém, ainda não foi suficiente para dizimá-la. No fim do ano passado ainda havia débito de R$ 15,1 milhões, referente a contas e impostos não pagos ao Ministério da Fazenda, INSS, Prefeitura de São Paulo, a empresa TV a satélite Sky, agências de viagem e pequenos fornecedores.
O maior credor ainda é a Coteminas, do ex-vice-presidente José Alencar (morto em 2011). A empresa renegociou a dívida - de R$ 5,7 milhões no fim de 2011- e recebe R$ 300 mil por mês do PT. A dívida refere-se à confecção de 2,75 milhões de camisetas para a campanha de 2004, serviço que foi investigado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios sob a suspeita de que viesse de caixa dois, o que foi negado pelos envolvidos.
Outro investigado pelas relações com o PT, o BMG teve a dívida de R$ 1,9 milhão quitada pelo partido em 2011. Ao mesmo tempo, doou R$ 1 milhão para a legenda no ano passado. O banco foi investigado por supostamente ter participado do mensalão ao forjar empréstimos para o PT como forma de lavar dinheiro público desviado. A investigação não foi suficiente para que o PT voltasse a registrar empréstimo do banco.
A assessoria do BMG afirmou que "nenhum de seus dirigentes faz parte da ação penal que se denominou de mensalão" - eles respondem a outra ação, referente a suposta fraude no empréstimo, e que está separada da análise do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF). O Banco Rural, outro investigado, também teve a dívida de R$ 1,87 milhão paga, mas não doou para o partido em 2011.
A receita extra também não foi suficiente para tirar o patrimônio líquido da sigla do vermelho. O passivo a descoberto, que era de R$ 44,5 milhões em 2010, depois de ajustes feitos no ano passado, caiu para R$ 6,4 milhões em 2011. Entretanto, o resultado ainda mostra que a soma de bens e recebíveis do PT é insuficiente para cobrir todas as suas dívidas.

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