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Jornalista, por conta de cassação como oficial de Marinha no golpe de 64, sou cria de Vila Isabel, onde vivi até os 23 anos de idade. A vida política partidária começa simultaneamente com a vida jornalística, em 1965. A jornalística, explicitamente. A política, na clandestinidade do PCB. Ex-deputado estadual, me filio ao PT, por onde alcanço mais dois mandatos, já como federal. Com a guinada ideológica imposta ao Partido pelo pragmatismo escolhido como caminho pelo governo Lula, saio e me incorporo aos que fundaram o Partido Socialismo e Liberdade, onde milito atualmente. Três filh@s - Thalia, Tainah e Leonardo - vivo com minha companheira Rosane desde 1988.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Retrato fiel na tragédia quotidiana da Palestina ocupada


"Situação das mulheres nos territórios ocupados por Israel é insustentável, afirma ativista palestina"

Não se trata de título de uma matéria nova, mas de um relato com bastante atualidade, assinada por Daniella Cambaúva, e publicado no portal Opera Mundi, em 8 de março deste ano. Ele retrata  situação da qual fui testemunha ocular quando de visita à Cisjordânia e a Israel,  em delegação oficial da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados.
Não necessitando de maiores  comentários, vamos ao grão:


"Todo palestino que tenha necessidade de entrar em território israelense ou até mesmo viajar da cidade de Ramallah ao setor oriental de Jerusalém precisa enfrentar uma longa e imprevisível fila, que pode durar horas ou até dias. Elas são o maior drama dos checkpoints, os postos de controle de passagem realizados pelo exército israelense. Lá, uma equipe militar é encarregada de observar os portões de acesso para fiscalizar o tráfego de pessoas. A revista física e nos carros são procedimento padrão. Veículos médicos podem ser parados em caso de busca a milicianos, fato que ajuda a explicar a razão de, entre 2000 e 2009, 72 palestinos terem morrido na espera por atendimento médico nos postos de controle, de acordo com dados da organização de direitos humanos israelense  B'Tselem.

Nos checkpoints, a cena de uma mulher grávida dando à luz ou sendo recebidas aos berros pelos solados é uma cena trágica, porém comum para quem visita a região, contou a palestina Soraya Misleh.  A jornalista, figura da luta para os direitos humanos e ativista da organização Mopat (Movimento Palestina para Todos), recebe a reportagem de Opera Mundi em seu escritório em São Paulo, entre livros e fotos de mulheres palestinas, e fala sobre a dificuldade que elas enfrentam por conta do bloqueio, vigente desde 2007.

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), muitos tratamentos especializados não estão disponíveis e os palestinos precisam ser levados para fora. Muitos, porém, têm sua saída negada pelos israelenses. Há falta de profissionais de saúde, aparelhos médicos estão em condições precárias e a importação de medicamentos é insuficiente. Para Soraya, este cenário é desastroso tanto para as mulheres quanto para os rumos da paz na região.

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O conflito entre palestinos e israelenses e o bloqueio aos territórios palestinos provocam um sofrimento generalizado, isto é, homens, mulheres, idosos, crianças... Por que existe esse trabalho com foco nas dificuldades enfrentadas exclusivamente pelas mulheres?
As mulheres historicamente são as que mais sofrem em situações de conflito armado. Em uma situação como essa, que é uma ocupação militar de fato nos territórios palestinos, as mulheres sofrem toda a opressão nos checkpoints (postos de controle), nos muros, assim como os homens. Mas a questão é que elas também acabam tendo de enfrentar situações complicadas que são colocadas na ocupação. Há situações, por exemplo, em que as mulheres têm de se tornar chefe de família durante uma guerra, durante a ocupação, porque os maridos foram presos. Na Palestina, 10% das mulheres são chefes de família. Elas têm que trabalhar e ao mesmo tempo enfrentar a opressão.

Para além disso, por serem mulheres, elas são vistas nos checkpoints como mais vulneráveis e sofrem uma humilhação maior ainda. Recentemente, eu estive na Palestina, em outubro, e as histórias que elas contavam é “quando a gente passa pelos colonos, eles fazem sinais pra nós, fazendo assim no pescoço [Soraya sinaliza com as mãos como se fossem lhe cortar a cabeça]”, elas usavam a expressão “diziam que ia fazer 'coisas feias'” com as mulheres.

As mulheres continuam tendo seus filhos nos checkpoints. Um dado recente é de que cerca de 70 mulheres tiveram os filhos nesses locais, impedidas de passar para poder dar à luz com dignidade, em maternidades. Elas acabam parindo em postos de controle. Esse é um dado da ONU, de 2007 [último dado disponível]: Dessas 70 gestações, 35 bebês e cinco mulheres morreram.

É uma situação infelizmente bastante comum, as pessoas não podem transitar livremente com dignidade. O que as mulheres querem de fato é poder estudar, trabalhar. Como em qualquer lugar do mundo elas querem ter seus direitos respeitados, de ir e vir.

Esse é um dado muito marcante. E tem histórias terríveis, como a de uma mulher que estava grávida, pronta para dar à luz, e não conseguiu passar. O marido foi morto num posto de controle, eles foram agredidos e o pai da mulher ficou 40 dias em coma. Essas histórias horripilantes acontecem.

Tem várias histórias que a gente conhece, que eu soube quando minha mãe foi pra lá em 2004. O filho de uma mulher foi morto “por engano” na frente dela. Eles acharam que era o outro [filho], que era militante, entraram na casa e mataram. Então as mulheres vivem todo esse trauma também, essa insegurança.

Em que região isso aconteceu?
Dentro da própria Cisjordânia. Há dezenas de postos de controle para você transitar de uma cidade para outra. Demora horas, você precisa de autorização. Lá, tem diferença entre placas de carro, de quem pode transitar de uma cidade para outra, diferenças de identidade, quem tem licença para passar, por exemplo, para ir para Jerusalém. Jerusalém oriental é território palestino e, mesmo assim, as pessoas [os palestinos] não têm o direito de ir para Jerusalém. Tem os postos de controle, então para você ir para um hospital dar à luz, é necessária uma autorização.

Wikimedia Commons

Flagrante delito do mau tratamento nos postos de controle entre aldeias da Cisjordânia ocupada

 
Fila para inspeção em posto de controle em Erez


Nesta viagem que você fez em outubro, você chegou a passar por algum posto?
Sim, algumas vezes.  Eu passei de ônibus, de carro e a pé, das três maneiras. De ônibus, o que a gente notou foi a discriminação com os palestinos. Eles precisam descer do ônibus para ir para Jerusalém, onde tem um checkpoint. Tinham que descer do ônibus, fazer o trajeto a pé no meio dos carros, isso faça sol, faça chuva, ir para um checkpoint onde você passa por dezenas de portões. E você é revistado. Tira cinto, identidade, sapato. E você vai passar e pegar o ônibus só depois junto com as outras pessoas, uma forma muito clara de discriminação.

Para os carros, tem uma placa amarela que indica que pode circular por todo o território, que hoje é Israel. Tem a placa branca, que só permite circular em determinadas partes do território palestino. Azul, permitindo em outros territórios palestinos, tem outras cores também. Então de carro você também para e mostra a identidade e responde uma série de perguntas.

Uma vez, passamos a pé pelo posto de controle. Essa foi a experiência, para mim, mais marcante. Achei bastante chocante a maneira como os palestinos são humilhados e tratados. Uma mulher no guichê, aos gritos, e as pessoas se amontoando para passar, inclusive com crianças, e aquela demora. E muitos, apesar de terem autorização, não podiam passar. Foi impactante".

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